
A automutilação ou “cutting” é a prática onde indivíduos provocam cortes no próprio corpo de forma intencional com lâminas, facas, objetos pontiagudos e tudo que possa provocar ferimentos e dor. A automutilação é um problema de saúde pública e precisamos falar sobre isso.
Em uma matéria vinculada no programa fantástico no ano de 2016, ficou evidente que a automutilação afeta 20% dos jovens e adolescentes no Brasil e no mundo. Atualmente é considerado um problema silencioso que já afeta os jovens mais que as droga e o bullying.
O motivo para tal comportamento é aliviar as dores emocionais em que o adolescente está passando, ou seja, a dor psíquica é tão grande que a dor física sobrepõe a dor emocional. É observável que em pessoas com esse comportamento prevalece a falta de expressão dos sentimentos, normalmente estes estão passando por alguma pressão psicológica, reprovação social na escola ou trabalho, bullying ou até mesmo por influência de algum ídolo.
Os cortes costumam ser provocado nos pulsos, braços, abdômen, pernas, coxas, entre outros. Sempre em locais onde possam ser facilmente escondidos, pois na maioria das vezes a intenção é que ninguém descubra e assim possam ser repetidos por mais vezes. Os indícios de que algo está errado podem ser identificados quando estes jovens e adolescentes passam a usar camisas de manga longa frequentemente, uso de inúmeras pulseiras no pulso, uso frequente de calças, tudo de forma excessiva como forma de dificultar a visão de determinada parte do corpo.
A adolescência é uma fase muito delicada e difícil onde o adolescente experimenta mudanças físicas, psicológicas e sociais. É nesta fase que o adolescente até a pouco era criança e agora se depara com um corpo em transformação, com uma produção absurda de hormônios e experimenta a primeira paixão, tenta lidar com dúvidas, raiva, amor, desejos e entre outros dilemas que são propícios nesta fase.
Para enfrentar esta travessia o ideal é que a família se mantenha ao lado, oferecendo suporte e atenção a este adolescente, porém, muitas das vezes não é no seio familiar que o mesmo encontra suporte, sendo assim ele recorre a internet ou amigos da mesma faixa etária para orientar-se, o que neste momento não é uma das melhores opções. O grito por socorro é silencioso mas é fácil de enxergar.
Na maioria das vezes este problema é identificado dentro das escolas e é nesta hora que os pais tomam conhecimento do fato e muitas vezes entram em choque por nunca imaginarem que seus filhos possam praticar tal “barbárie” contra o próprio corpo. A orientação é que neste momento delicado a família não tenha atitudes de reprovação ou tente punir este adolescente, mas sim oferecer suporte para o mesmo que neste momento está fragilizado.
Por falta de conhecimento do problema algumas pessoas dizem que tal comportamento é apenas para chamar atenção, porém, a automutilação nada mais é que a busca na dor física para o alívio da dor psicológica.
Além do apoio da família que é fundamental, existem tratamentos que consistem no acompanhamento com um médico psiquiatra, que poderá prescrever medicação e, com acompanhamento psicológico que serve como apoio e fortalecimento emocional.
Antônio Marcos Lima Vieira, psicólogo, psicoterapeuta – CRP 18/03359
Artigo escrito exclusivamente para o jornal regional A Tribuna MT onde foi vinculado no formato impresso e digital. Para conferir CLIQUE AQUI